quarta-feira, 29 de junho de 2011

CONTOS DO VIGÁRIO

 
         Acho que em qualquer lugar do mundo é assim. As expressões, os ditos vão se tornando populares e pouca gente se preocupa em saber sua origem. A expressão “Conto do Vigário” é uma delas. Todos sabemos que é o fato de uma pessoa ser enganada, iludida por outra. Caiu num conto do vigário. Mas como é que começou tudo isso ?
         Alguém já me explicou que foi assim.
         Em, tempos muito remotos existia no interior de Minas Gerais um vigário muito rico, fazendeiro muito afamado e que costumava negociar com toda espécie de gado. Homem bastante ganancioso, não perdia oportunidade para ganhar dinheiro, lícita ou ilicitamente, mesmo que isso pudesse contrariar os ensinamentos de Jesus Cristo, que não deu nenhum valor ao dinheiro, ao contrário, até condenou muito os poderosos.
         Certo é que um dia apareceu na casa de nosso vigário, um cidadão querendo comprar uma boiada, cujo preço ficou combinado em trinta contos de réis - moeda corrente na época. Negócio fechado, tudo em ordem, o homem ficou de voltar no dia seguinte para fazer o pagamento e receber os bois. Acontece que quando chegou, foi se fazendo de bêbado, completamente “melado”. O homem estava que nem uma raposa, só na aparência, e a sua conversa era só essa:
         - Pronto, seu Vigário, quero fazer o pagamento que combinamos. Puxou da bolsa um calhamaço de notas de contos de réis, mas as contava como se fosse notas de quinhentos mil réis. O vigário cresceu logo os olhos sobre aquela “bolada”.
         Puxa vida, deve ter pensado ele, vou ganhar o dobro.
         O homem contou sessenta notas e disse:
         - Pronto, seu vigário, aqui estão as sessenta notas de quinhentos mil réis. Conte bem, confira tudo direitinho, porque eu gosto dos meu negócios corretos.
         O vigário, na ânsia de ter pegado um besta, concordou logo e guardou o dinheiro.
         E tem mais, o cabra era mesmo esperto: pediu recibo, exigindo que no mesmo fosse declarado que o dinheiro tinha sido pago em notas de quinhentos mil réis.         O padre não contou conversa. No rodapé do recibo, declarou de próprio punho:
         - Para maior clareza declaro que os trinta contos de réis me foram pagos em sessenta notas de quinhentos mil réis. Tudo para obter o lucro que não era legal.
         No dia seguinte, quando o vigário foi ao Banco para depositar o dinheiro, é que o caixa verificou que o padre tinha sido enganado.
         - Seu padre, essas notas aqui são todas falsas, não tem uma que preste, o senhor foi vítima de um ladrão.
         Foi aquele corre-corre dos diabos. Polícia, muita confusão, tudo no sentido de se prender o tal homem, que já estava longe, com a boiada.
         Quando a polícia chegou, o cidadão, com a maior calma do mundo, foi logo dizendo:
         - Deve haver um lamentável engano em tudo isso, eu não paguei nada em notas de contos de réis. Deve ter havido uma troca desse dinheiro em poder do vigário. Vamos voltar para esclarecer definitivamente o assunto.
         Chegando na cidade exibiu o recibo e perguntou:
         - Seu vigário, o senhor conhece essa letra?, mostrando o recibo.
         Ora, o padre não podia dizer nada, na realidade tinha sido enganado, mas não podia falar coisa alguma pois também ele agiu de má-fé e ficaria feio admitir.
         Daí para cá vem a expressão: “Contos do Vigário”, para dizer que uma coisa é falsa. É falsa que nem os contos do vigário. No começo eram apenas notas, depois se generalizou.
         Quem tudo quer, tudo perde, não é assim que se diz?

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