José de Souza e Silva e Rita Pereira da Silva, casados, formaram o que se pode dizer um casal perfeito. Sempre unidos, ambos trabalhando e lutando pelo bem-estar da família, obtiveram pleno êxito em suas vidas, já que deixaram todos os filhos bem encaminhados, um patrimônio bastante razoável, construído à custa de muito trabalho e força de vontade.
Os filhos são os seguintes: Antônio, Esmaragdo, Pedro Ivo, Raimundo, João Ribeiro, Manoel de Jesus, José (Cazuzinha), Violeta, Iracy e Isaura. É uma família que pode ser apontada como exemplo, pois todos, sem exceção, conseguiram vencer na vida nas mais variadas profissões. General do Exército, Desembargador, Médicos, Engenheiro, Contador, ali tem de tudo, e da melhor marca.
Falo com entusiasmo dessa turma em virtude dos fortes laços que nos unem, de família e de amizade. Tenho o maior carinho e admiração por todos e aqui lhes presto a minha humilde homenagem.
Falar do Cazuza é coisa que faço com imensa alegria. Toda a minha existência está muito ligada a ele, pois, quando o meu Pai faleceu, eu tinha apenas onze anos de idade. E foi com ele que eu participei de muita coisa no começo de minha vida.
Lembro-me de que o Cazuza ensinou-me a nadar e ainda hoje tenho na memória o dia em que me autorizou a atravessar o Rio Balsas, o que fiz acompanhado por ele e pelo Rosa, um de cada lado.
Foi para Balsas a convite do meu Pai, seu irmão, com quem trabalhou muito tempo, seguindo depois por conta própria para constituir a família da qual falei acima.
Inspirava inteira confiança em todos. Quantas e quantas vezes participei de passeios, cujo consentimento dos meus pais, só obtinha quando dizia que quem comandava era o Cazuza.
São ótimas recordações de infância que guardo com imensa alegria. Homem muito sério, mas que de quando em vez gostava também de fazer as suas brincadeiras. Lembro-me de que uma vez a “Itinha” chegou na loja com uma dúvida sobre um convite de casamento que estava mandando imprimir, não sei para quem, e não sabia se mandava colocar o nome do homem em cima ou em baixo, ao que o Cazuza disse:
- Toda a vida ouvi dizer que o homem fica em cima da mulher.
Por sua vez, a Itinha respondeu:
- Está ficando muito engraçado, hein...
Faleceu em São Luís, vítima de pertinaz moléstia, cercado pelo carinho da mulher e de todos os filhos, que tudo fizeram para lhe salvar a vida.
Falar sobre a Itinha é outra tarefa que cumpro com a maior satisfação, com o coração cheio de júbilo, com imensa alegria, certo de que estou cumprindo um dever, e, ao mesmo tempo, satisfazendo um desejo que sempre alimentei.
Quisera eu ter capacidade para escrever coisas bonitas, lindas palavras para homenagear uma pessoa que tanto estimo e guardo na memória com o maior carinho.
Era nossa segunda mãe, digo nossa, por que interpreto aqui também o sentimento da Zisile, que nutre por ela a mesma dedicação, o mesmo amor, a mesma amizade. Criatura muito carinhosa, fazia tudo sem ostentação, sem o desejo de aparecer, muito ao contrário. Quantas vezes deixava os seus afazeres para assistir a um pobre, até mesmo fora dos domínios da cidade.
Tenho conhecimento de que ela algumas vezes viajou até Imperatriz, acompanhando uma pobre cega para que a mesma fosse operada. Ela mesma não divulgava isso, a gente sabia muito tempo depois.
Providências para aposentar pessoas que tinham esse direito e não sabiam ou não podiam usá-lo, tudo isso ela fez com o único intuito de servir, sem qualquer outro interesse.
Temperamento alegre, gostava de ouvir e de contar piadas em reuniões de família. Certa vez, no “Canto Alegre”, juntamente com quase todos os filhos, ficamos até altas horas da madrugada em alegre palestra, falando de coisas amenas, contando fatos, relembrando muita coisa boa. Muitas e muitas vezes fiquei em Balsas em sua casa, sempre tratado como um verdadeiro filho.
Não há dúvida de que a Itinha ocupa lugar de realce no seio de nossa família.
Em cumprimento de uma promessa de caráter religioso, a Itinha organizou um grande banquete, cujos convidados de honra foram os cegos e aleijados da cidade. No final da festa levantou-se uma ceguinha, dizendo que desejava “louvar”, fazer a louvação dos donos da casa. Muito entusiasmada disse o seguinte:
- Viva a toalha da mesa, viva os prato e as cuié, viva Dona Ritinha e seu Cazuza, que isso sim é que é muié !
Aplausos gerais pela simplicidade, pela maneira carinhosa que aquela criatura tão simples disse tais palavras.
Outra cega, quando lhe ofereceram a sobremesa - que constava de doce de banana, de goiaba, de batata e de mamão - e lhe perguntaram de qual deles preferia, respondeu sem titubear:
- Bote dos quatro, minha fia... Ela queria mesmo era tirar a “barriga da miséria”, aproveitando aquela oportunidade, talvez única.
Noutra oportunidade, em sua casa, falava-se sobre determinado assunto e eu interferi, contrariando o seu ponto de vista. Ouvi da Itinha essa expressão:
- Lá vem o Alberto, com a bandeira da misericórdia, querendo dizer que eu estava sendo complacente demais com a pessoa de quem falávamos.
Gostava imensamente de pescar, o que fazia às vezes até altas horas da noite em companhia de algumas amigas que também gostavam da diversão. Em virtude de uma promessa religiosa, deixou por completo, nunca mais demonstrou o desejo de praticar tal atividade.
Era uma pessoa que trabalhava demais, porém sempre com dificuldade, pois não gozava de boa saúde. Durante toda a sua vida dizia que a coisa que mais temia era ficar doente, em estado grave, sem poder andar, dando trabalho aos outros.
Deus, na sua infinita misericórdia, ouviu as suas preces, pois a Itinha faleceu vítima de ataque cardíaco, minutos antes de atender a um telefonema de um filho, que se encontrava em Brasília. Naquela ocasião ela estava em Fortaleza, na casa de sua filha Iracy.
Está sepultada no Cemitério Parque da Paz.
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