quarta-feira, 29 de junho de 2011

O CAJUÍ

         Disputava-se uma partida de futebol em Teresina, no campo da Fiação, do Flamengo. O jogo estava sendo travado entre o Botafogo, time dos subtenentes e sargentos do 25º BC e o Artístico, time pertencente à classe operária.
         Tudo transcorria normalmente, nada demais. O Artístico vencia o jogo por 3 x 2, nada de roubalheira, tudo bem, tudo normal.
         No final do jogo deu-se o que ninguém esperava: o juiz, chamado “Olho de Bomba” (atentem para o apelido, visto que o coitado tinha os olhos esbugalhados), quando ia deixando o campo foi violentamente agredido pelo tenente José Vieira, um brutamontes, dono do Botafogo, ignorante como o diabo, forte como um touro, tido e havido como valentão naquela época, acostumado a “fazer e a acontecer”.
         Aí então é que surge o personagem principal da história, o “Cajuí”, rapaz extremamente franzino, pequeno, magro, mas que demonstrou imensa coragem. Foi o único a aparecer em defesa do juiz “Olho de Bomba”:
         - O que é isso, “seu” tenente, agredindo o moço só por que o seu time, que não vale nada, está perdendo?
Meus amigos, foi um verdadeiro horror. O tenente Vieira partiu para cima do Cajuí, assim como se fosse liquidar o homem com um só golpe. Puro engano, recebeu uma finta espetacular e a expressão:
         - Que é isso, seu tenente, olhe que se eu estivesse armado era a minha hora !
         Nessa altura dos acontecimentos todo o público presente já torcia pelo mais fraco, o Cajuí.
         Nova investida do tenente, nova finta, desta vez maior ainda e os aplausos delirantes da “galera”. A conversa do Cajuí era a mesma:
         - Que é isso, seu tenente...?
         Por último, o tenente, furioso, avança para o homem e esse se agacha, ocasião em que recebe o que seria o golpe mortal - uma pancada com o capacete de aço do tenente. Que nada, qual o que, o Cajuí era mesmo extraordinário. Pulou bem acolá, completamente ileso, sem qualquer arranhão e já transformado em herói. Aí a coisa estava preta para o tenente, que foi retirado do cenário, com a farda toda rasgada, suado por desgraça e recebendo estrondosa vaia do povão.
         Que papel feio, seu tenente...

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