quarta-feira, 29 de junho de 2011

FLAGRANTES DO PIAUÍ

        O CANTO ESCURO

Na juventude a gente faz coisas que na infância não imagina e na velhice não admite.
         É muito comum a gente ouvir os mais velhos dizerem para os filhos:
         - No meu tempo era diferente, eu não fazia uma coisa dessas.
         Tudo conversa fiada. Em todos os tempos aconteceu o que para nós pode ser certo ou errado. O que eu acho correto é a gente informar o jovem dizendo a verdade, apenas demonstrando os perigos que o mesmo vai enfrentar. A decisão é de cada um, a vida deve ser decidida pelo seu próprio dono. No mais, Deus é quem sabe.
         Fiz estas considerações apenas para contar um episódio que vivi em Teresina, em plena juventude, quando a nossa mente ainda está cheia de muitas ilusões.
         Na noite de um sábado qualquer, saímos, eu, meu irmão Aluízio e um amigo em busca de um divertimento na periferia da cidade. Pegamos um carro de praça e mandamos que seguisse rumo ao “Mafuá”, região perigosa bastante conhecida naquela época. Chegando lá mandamos parar o carro e ficamos de ouvidos atentos para descobrir algum forró, até que escutamos o som de um zabumba, lá para as bandas do “cafundó do Judas”.
         Chegando lá despachamos o motorista, com a recomendação de que voltasse para nos apanhar às três horas da madrugada.
         O ambiente era o pior possível. Briga de vez em quando, desentendimentos, arruaças, o diabo. O motorista observou tudo, viu que estávamos metidos em “camisa de onze varas”, caso continuássemos ali. Voltou mais cedo e nos comunicou o perigo. Usou o bom-senso.
         Na saída estava um cearense, de faca em punho, ameaçando todo mundo, riscando o chão com a faca, para demonstrar que estava disposto a matar ou a morrer. Aí é que o Aluízio ia complicando tudo:
         - Vou desarmá-lo, dizia com insistência.
         Depois de muita luta conseguimos convencê-lo a não se meter na confusão. Foi a nossa sorte.
         No dia seguinte os jornais estamparam em manchetes:
         - “Cena de sangue no Canto Escuro. Dois mortos e dois feridos”.
          Escapamos por um triz.

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