A “BOBÓ VELHA”
Era uma dessas criaturas que nascem, vivem e morrem numa cidade. Chegam até a se tornar tipos populares, mas depois de passarem pela vida caem no esquecimento completo. Juntamente com os seus restos mortais vai também sepultada sua memória.
Lembro-me de que era uma velha de aspecto bastante feio, cabelos sempre assanhados, maltrapilha, falava com extrema dificuldade e causava medo às crianças. Mesmo assim a gente tinha aquela vontade de insultar a pobre velha, só para ver a sua revolta, a reação violenta que ela sempre tinha, todas as vezes que era chamada pelo apelido.
Uma ocasião eu tinha chegado de nossa Fazenda Morrinhos e encontrava-me só em casa, quando chega a velha que sempre andava perambulando pelas ruas. Embora sabendo o perigo que ia enfrentar cheguei bem perto dela e disse em voz alta:
- “Bobó velha”, e corri imediatamente.
A pobre velha ficou louca de raiva e correu atrás de mim que fui me esconder atrás de um baú. Lembro-me de que ela chegou bem perto e eu, com a respiração presa, ali estava imóvel, que até hoje me arrepia.
Morava lá para as bandas do “Azeite de Côco”, final da rua Benedito Leite. Hoje o pessoal que mora ali não gosta que se chame pelo nome antigo. Eu, por mim, nada tinha mudado. Os nomes originais teriam continuado todos.
Fica o registro da “Bobó Velha” e que ela, de onde estiver, que me perdoe por não saber nem o seu nome verdadeiro e pela raiva que lhe causei.
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