Ele andava com certa dificuldade. Tinha os dois pés virados para dentro. Daí o seu engraçado apelido de “Pé de Curica”. O nosso povo tem a péssima mania de aproveitar os defeitos físicos das criaturas para colocar apelidos. m alguns casos até impiedosos. No caso presente até que dava certo, pois o seu modo de andar era até parecido com uma “curica”.
A verdade é que, numa ocasião, jogavam uma partida de futebol o segundo time do Flamengo, famoso na época, eterno campeão, franco favorito e, do outro lado, um timezinho do interior, cujo nome não me recordo. Foi escalado para apitar a partida o nosso Pé de Curica, que até tinha fama de bom juiz.
Nesse dia nada dava certo para o Flamengo, jogadas erradas, chutes a esmo, desentrosamento total, nem parecia o Flamengo de Zé Ribeiro, “Fogoió”, “Júlio”, “Grilo” e tantos outros jogadores que desfrutavam de grande fama.
Resultado do primeiro tempo: 6 x 0 favorável ao time de fora. Um verdadeiro desastre. Nos vestiários os mais variados comentários, naquela altura ninguém entendia nada, uns colocando a culpa no técnico, outros acusavam o goleiro, enfim era o caos...
Nessa hora entra em cena o “Pé de Curica” para tranqüilizar o pessoal:
- Vocês ficam aí falando besteira, nós ainda vamos é ganhar a porra desse jogo!
Surpresa para todos, pois ninguém acreditava numa virada. Volta o juiz a falar:
- Não se preocupem. Entrem na área do adversário e deixem o resto por minha conta.
E foi o que aconteceu. Por incrível que pareça o homem marcou S E T E pênaltis no segundo tempo, dando, assim, a vitória ao Flamengo.
Dizem que o último pênalti foi marcado aos 45 minutos e o goleiro praticou extraordinária de defesa, só comparada às defesas do Batatais que era o maior goleiro do Brasil na época. O famoso juiz, não satisfeito, mandou repetir a cobrança, acusando que o goleiro tinha “andado”. Na segunda cobrança deu-se o gol que consagrou a vitória mais difícil obtida no futebol brasileiro.
Coisas do meu querido Piauí...
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