quarta-feira, 29 de junho de 2011

RAIMUNDO “COMBOEIRO”

         Este foi um cidadão que morou na Rua do Frito, hoje rua Onze de Julho. No local que ficava a sua casa hoje não existe mais nada, apenas o terreno. A sua origem é desconhecida. Pode até ser que enquanto vivo alguém soubesse de onde veio.
         A verdade é que o tempo faz esquecer tudo, pouca gente se lembra do “Comboeiro”. Só os mais velhos, como eu, guardam alguma recordação dessa figura.
         Sofreu um derrame cerebral e por isso andava com muita dificuldade, arrastando a perna esquerda, sempre apoiado por uma bengala. Possivelmente o derrame afetou-lhe o juízo. Era um débil mental revoltado, vivia descompondo todo mundo. Por isso mesmo merecia a atenção especial da criançada, que o provocava constantemente, só para ver a explosão de desaforos, nomes feios, xingamentos, o diabo.
         Eu mesmo devo confessar que muitas e muitas vezes, juntamente com o meu amigo Zilo Pires  (diga-se só para ilustrar que esse austero cidadão, hoje renomado cirurgião em São Luís, quando criança era um capeta em figura de gente, acreditam ?) . Bem, nós, por muitas vezes, atormentamos o pobre homem e ficávamos satisfeitos com a descarga de raiva do coitado.
         O Comboeiro era um mendigo até certo ponto antipático. Malcriado, pedia esmola fazendo imposições. Se a gente lhe dava gêneros alimentícios ele recusava. Queria dinheiro vivo.
         Por causa dessas suas constantes demonstrações de mau humor, eu assisti, em uma ocasião, um comerciante lhe aplicar uma surra de cinturão, colocando-o para fora de casa. Fiquei com pena do desgraçado na época, mas até que ele mereceu. 
      Era casado. Tinha uma filha de pouco mais de um metro de altura, que por sinal quase não saía de casa, talvez para não ser alvo de comentários. Faleceu e foi sepultado em Balsas, onde sempre viveu da caridade pública.

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