quarta-feira, 29 de junho de 2011

A CONSTRUÇÃO DA IGREJA

         Tenho o prazer e a honra de dizer que participei desse evento religioso. Sou testemunha ocular dessa história. Estava lá, vi tudo, acompanhei de perto desde a abertura dos alicerces. Foi talvez a mais bela demonstração de fé que o povo balsense deu até hoje.
         Sob o comando do vigário da época, Padre Bogéia, idealizador e executor do empreendimento, o povo todo participou. Homens, mulheres e crianças irmanados por um só ideal, para erguer aquela que é uma das mais belas igrejas que conheço. É claro que vai aqui o sentimento de afeto que tenho. E não podia ser diferente.
         As pedras destinadas às escavações foram transportadas pelo povo. Verdadeiras caravanas se formavam, uns do local da pedreira até a Tresidela, outros fazendo a travessia do rio em canoas e muitos conduzindo da beira do rio até o local da grande obra.
         Lembro-me de um cidadão chamado Samuel, que pagou uma promessa conduzindo a maior pedra. Prometeu e cumpriu, foi aplaudido pela multidão que o cercou.
         Desconheço um movimento mais bonito em Balsas, pelo menos no setor religioso. O comércio ajudou fazendo contribuições espontâneas. As senhoras colaboraram organizando campanhas. O pensamento de todos girava em torno do grande ideal - construir a Igreja de Santo Antônio.
         Aí está ela, imponente, maravilhosa, despertando esse sentimento de amor que invade o coração de todo balsense que se preze.
         Os pedreiros que a construíram foram contratados em Floriano. Vieram a pé, vejam os amigos que sacrifício. Naquele tempo era assim. Não tinha essa moleza de avião ou automóvel. O “cabra” tinha que se virar e não havia tanta reclamação como hoje.
         Quando a igreja já estava quase pronta, em fase de acabamento, houve um episódio que merece registro. Vejam lá.
         O sol estava se pondo, quase noite. Meu Pai encontrava-se na porta da loja, como era seu costume, e de longe observou o movimento no pátio da Igreja. Apurou a vista para ver de que se tratava e não descobriu nada. Foi até o local para ver de perto. Alguns homens trabalhavam com afinco na abertura de um grande buraco. Intrigado com a história, perguntou do que se trava:
         -  É uma grande surpresa que nós vamos fazer para o povo de Balsas, respondeu o chefe da obra.
         Meu Pai volta a insistir, para descobrir a tal surpresa, até que o nosso “herói” resolveu contar tudo:
         -  Vamos abrir aqui um buraco de quatro metros de fundura. Lá embaixo vamos fazer uma caixa de cimento e colocar uma lata de cinco quilos de pólvora. Fechar tudo, botar um estopim e tocar fogo para romper a Aleluia, amanhã!
         Plano audacioso, não há dúvida, mas que teria tido conseqüências desastrosas. Meu Pai disse mesmo para eles:
         -  Meus amigos, se vocês fizerem o que estão pensando, vão derrubar não só a Igreja que acabaram de construir, mas também todas as casas desta Praça.
         Decepção geral para eles e felicidade  para nós, que não ficamos sem a Igreja.
         Tenho muita saudade de tudo aquilo. Quando volto meu pensamento para Balsas dos velhos tempos sinto até vontade de chorar. Sim, chorar, porque a saudade é como diz o poeta:
         “A saudade é como um parafuso, que na rosca quando cai, só entra se for torcendo, porque batendo não vai. E se enferrujar por dentro, pode quebrar, mas não sai”.
         Acho que no meu caso ela enferrujou por dentro.

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