Era um “abestado” que apareceu pela TV Educativa, no tempo que eu trabalhei por lá. Começou vigiando o carro dos funcionários, foi ficando, ficando, até que conseguiu ser admitido como servente. Logo angariou a amizade de todos, prestando serviços aqui e ali, pois até que era prestativo. Esse Manoel fez cada uma...
Nas horas vagas prestava alguns serviços na casa de nosso diretor financeiro, José Esmeraldo Barreto, que gostava do diabo do negro. Numa ocasião fez alguma besteira por lá e o Barreto, com justa indignação o repreendeu, passando-lhe um “carão” em termos violentos, duros mesmo:
- Olhe aqui, seu negro filho duma égua, seu moleque, a partir de hoje eu não quero mais te ver na minha casa. Não me apareça mais lá, nunca mais.
O Manoel ouviu tudo com a maior atenção, com todo o respeito, e respondeu:
- Sim, seu Barreto, diga pra Dona Sinhazita que eu amanhã vou almoçar lá, sem falta. Dona Sinhazita era a esposa do Barreto, que não teve outra saída senão achar graça e tolerar.
Uma certa ocasião recebeu uma importância relativamente boa, relativa à diferenças salariais. Chegou ao nosso conhecimento que ele havia emprestado todo o seu dinheiro para um seu colega, que sabíamos ser um velhaco de marca maior, desses que não pagam a gente. Chamamos o Manoel às falas, que justificou-se dizendo o seguinte:
- Seu Alberto, eu não sou besta não, emprestei o dinheiro mas o cabra assinou um vale, tá aqui no meu bolso.
- Manoel, disse eu, esse vale aí não serve nem como papel higiênico, é muito áspero.
O dinheiro mesmo ele nunca mais viu a cor, “foi-se com três nós no rabo”.
Em outra oportunidade passou o dia inteiro “aperreando” todo mundo, dizendo que havia perdido a importância de três mil cruzeiros. Procurou por toda a parte, remexendo gavetas, perguntando a um e a outro. A conversa dele era uma só, a qual repetiu inúmeras vezes:
- Perdi 3 mil cruzeiros, três notas de mil cruzeiros estavam dentro de um papelzinho amarelo. A conversa já estava se tornando impertinente. Não encontrou nada.
Já no fim do expediente, estava ele conversando com alguns colegas na cantina, certamente sobre o assunto, ocasião que eu saí do escritório e gritei para ele:
- Manoel, e o negócio do dinheiro, mostrando alguma coisa que tinha na mão.
O homem então se arrancou de lá para cá, vinha que nem uma anta, levando tudo nos peitos, e com a maior euforia perguntou:
- Achou, seu Alberto ?
- Achei só o papelzinho amarelo, respondi.
Ainda hoje tenho pena pela decepção que causei ao coitado. Tudo por querer fazer piada com o sentimento alheio.
Acho que o Manoel ainda hoje está na TVE fazendo as suas “pataquadas”.
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