Considerações iniciais aos amigos e parentes
Alberto Ribeiro da Silva |
Com era intenção de meu pai, Alberto Ribeiro da Silva, registrar sua história de vida, criei este blog em sua homenagem, com o objetivo de transmitir aos parentes e amigos sua história e fatos que marcaram sua presença nos diversos locais onde esteve presente. Particularmente o papai se refere neste primeiro livro, chamado “O Meu Depoimento” às pessoas e histórias que se passaram em Balsas, Maranhão.
João Ribeiro da Silva Neto
Conforme suas próprias palavras – “Longe de mim a pretensão de escrever um livro, na verdadeira acepção da palavra. Reconheço a minha limitação e por isso mesmo ficarei muito contente se conseguir passar para o papel alguns fragmentos da minha memória, alguma coisa que tenho na mente e que gostaria que não ficasse inteiramente perdida no turbilhão da vida.” Pretendo abordar os seguintes temas: ...
O blog manteve na íntegra todos os capítulos do livro, na seguinte ordem:
- meu depoimento;
- a família;
- flagrantes da vida balsense;
- flagrantes do Piauí;
- flagrantes do Ceará;
- flagrantes de São Paulo;
- flagrantes diversos.
E continuou o papai dizendo que: “O que me interessa mesmo é fazer um registro dos acontecimentos, uns diretamente ligados à minha pessoa, outros aos meus familiares e muitos outros que estavam na minha mente e que eu desejo transmitir, passar para frente”.
Alberto Ribeiro da Silva - 25/07/1919 +05/04/2001
Alberto Ribeiro da Silva, nascido em Balsas, Maranhão, chegou a Messejana em 1963, vindo de São Paulo, onde trabalhou como Contabilista. Em Messejana, entre suas atribuições de trabalho na área contábil, foi o apoiador inconteste do Conjunto Musical Big Brasa, que fez sucesso em Fortaleza, Ceará e em outros Estados nos Anos 60, juntamente com sua esposa Zisile.
Sócio proprietário do Balneário Clube de Messejana, também foi chegou a integrar a diretoria do Clube, época que lutou contra diversos preconceitos existentes, tais como entrada de jogador de futebol no clube, dentre outros. No Balneário ajudou a elaborar seus Estatutos e contribuiu muito com idéias inovadoras e promoções de festas inesquecíveis, ao som do Conjunto Big Brasa. Todos que tiveram o prazer de conhecê-lo ainda hoje guardam boas lembranças na memória.
O texto abaixo, sobre o Mestre Alberto, como ele era conhecido, foi escrito por Luiz Antônio Alencar, músico do Conjunto Big Brasa, e hoje jornalista. Há também o depoimento de Lucius Maia Araújo, auditor federal e também ex-integrante do Big Brasa, em carta escrita a seu filho João Ribeiro (conhecido como Beiró, no meio musical), logo após sua partida.
* Alberto Ribeiro da Silva escreveu dois livros (Meu Depoimento e Uma Lição de Vida) os quais estarão disponíveis para download em breve no Portal Messejana.
Depoimento de Luiz Antonio Alencar
Alberto Ribeiro da Silva era, e ainda é uma lição de vida em todos os aspectos. Em tudo que ele fazia e falava tinha um ensinamento embutido, e isso fez com que a gente que ainda hoje faz parte da família Big Brasa (estados de espíritos são entidades que se eternizam) tenha retido lições e posicionamentos diante da vida que ainda hoje em dia norteiam a nossa vida pessoal e profissional.
Particularmente, seu exemplo de vitalidade, entusiasmo, amor e fé, me marcaram até hoje, com a grande máxima de que a juventude se mantém através desses atributos que o Mestre Alberto tinha de sobra. Acreditar no ser humano e amar acima de tudo era o mote do Mestre Alberto. Mesmo com toda a sua sabedoria e prudência, ele sempre deixava o coração falar bem alto, e como falava.
O Conjunto Musical Big Brasa foi um momento marcante na vida de seus participantes e das pessoas que o conheceram, o Mestre Alberto foi o momento marcante e definitivo na vida do big brasa. Era uma banda, ou conjunto, como a gente chamava na época, que fazia sucesso no Ceará e em outros estados através de apresentações da televisão mesmo incipiente e preto e branco na época, mas não menos mágica.
O Mestre Alberto regia mentalmente a banda, uma espécie de maestro atuando em outras esferas da mente e do espírito. Quando passeava pelos clubes em que a gente tocava, simples, tranqüilo e despojado e com a humildade das grandes almas, de repente como se tocado por um raio invisível, se transfigurava quando executávamos uma música que o agradava. A banda toda junta não conseguia condensar tanta energia. Era o famoso ágape, que é como os gregos chamavam aquele amor por tudo e por todos que faz arder os seres iluminados.
O Big Brasa por conta dele, e das experiências que ele a própria banda em si proporcionaram, se tornou uma grande escola, e o Mestre Alberto sempre será um supremo representante da raça humano, um homem que muito fez, muito construiu, totalmente desprovido do manto de chumbo da vaidade que esmaga a essência de tudo que há de mais belo na alma humana.
O Mestre Alberto estava e ainda está acima dessas coisas todas, como filósofo nato e roqueiro honorário e de alma.
Encerrando, eu particularmente prefiro mascarar a triste realidade da partida do Mestre Alberto para outro oriente, achando que ele está mesmo é no Balsas, como ele chamava, muito bem obrigado e ouvindo as músicas que o Big Brasa tocava.
“É isso aí, mestre”, como ele falava.
(Trechos da carta de Lucius Maia, ex-integrante do Conjunto Musical Big Brasa e amigo da família dirigida ao filho João Ribeiro)
MESTRE ALBERTO ESTÁ VIVO
Caro amigo “Beiró” (João Ribeiro)
Não sei o que te dizer. Mas sinto necessidade de falar o que, de coração, for surgindo dos meus sentimentos. Dá para imaginar, bem sei o que você está sentindo nesse momento e também toda a sua família.
Foi terrível receber a notícia, pela esposa do Alberto Neto. Fiquei muito triste. O Mestre Alberto, além de seu pai, além de ser o seu grande exemplo de caráter, de bondade e tudo o mais, era e é, realmente, uma pessoa muitíssimo especial. Dessas que, sabemos bem, estão cada vez mais raras de serem encontradas. Nunca me deparei com alguém que, a propósito do Sr. Alberto, não fizesse questão de, sempre, adicionar algum tipo de comentário especial.
Além disso, ele significava, para muitos dos seus amigos – e eu entre eles - um pouco de pai, durante aqueles anos maravilhosos que tivemos a sorte de conviver tão próximos. E isso fica pra sempre. Lembrar dele era lembrar de uma pessoa realmente especial, creia.
E quando se trata de nosso pai (como foi o caso da partida do papai também) a tristeza é ainda maior, dolorida mesmo. Mas, se posso te dizer algo de confortante, porque comigo foi assim, simplesmente o papai permaneceu ainda mais vivo na minha vida depois que ele se foi.
O tempo que leva para que isso aconteça não é assim muito imediato, pois a percepção gradual e real do significado da perda da presença física é muito, muito difícil.
É um vazio e mal-estar tão grande que a gente pensa que nunca vai se conformar. Mas pessoas como você, e eu, acho, temos uma base emocional e racional bastante elaborada (olha aí a presença deles de novo...) para entendermos o que existe de realmente natural nessas situações. Somos maiores dos que elas e, pela naturalidade do que representam, depois de certo tempo incorporam-se tranqüilamente em nossa aceitação verdadeira. Não há como ver tudo isso de maneira não natural - é tão simples quanto isso, mesmo que posso parecer presunçoso simplificar (no bom sentido) acontecimento tão complexo de nossas vidas.
Quando ainda estão entre nós a gente não costuma perceber o total da importância e felicidade que isso representa porque simplesmente está tudo bem, tudo normal, ele está ali à disposição, do lado, por perto, presente... E nada mais natural do que seja assim mesmo.
Quando partem, a sensação motivada pelo carinho e o amor que continuamos a sentir os traz de volta à mente muitas vezes mais do que era antes - eles ficam muito mais presentes, vivos, e os vemos em quase tudo com que nos deparamos no nosso dia-a-dia. A coisa mais comum que me acontece é sempre imaginar o meu papai, nas mais diferentes situações, quanto ao que diria ou faria se por aqui ainda estivesse.
Mais incrível ainda é a freqüência com que nos deparamos, com a maior consciência e introversão da verdade verdadeira mesmo de que nós mesmos somos muito do que eles eram (no nosso caso, com a sorte que tivemos como filhos por tratarem-se de homens realmente especiais, de densidade moral e virtudes absolutamente inquestionáveis...), de que assimilamos e somos de fato muito do que eles eram.
João Ribeiro e família: espero que vocês alcancem o sentimento de resignação que realmente está implícito em algo, infelizmente, tão natural nas nossas vidas. O mistério é muito grande...
Da lembrança que tenho do Mestre Alberto, imagino que ele não gostaria mesmo de ser motivo de sofrimento continuado por parte das pessoas que ele mais amou na vida.
O Mestre Alberto considerava que a vida havia sido muito boa para ele. E a vida foi boa para ele principalmente porque ele teve vocês, filhos, netos, esposa, amigos, que ele amava e, sempre, se dava o que tinha de melhor e recebeu também muito em troca.
Receba meus sinceros sentimentos, junto com Dona Zisile, Getúlio, Aliete, seus filhos, sobrinhos, primos e demais parentes.
Falamos-nos em breve. Grande abraço fraterno,
Lucius Maia
Em 06 de abril de 2001
(Resumo, extraído do livro o Meu Depoimento, de Alberto Ribeiro).
O Conjunto “Big Brasa” oficialmente foi fundado no dia 8 de março de 1967. A data da fundação foi uma homenagem ao Getúlio, que faz aniversário nesse dia. Estava eu tranqüilamente em casa, quando recebo a visita do João Ribeiro e seu grupo para solicitar a minha adesão à idéia. De início fui radicalmente contrário, mas, depois, com a interferência da Zisile, resolvi aceitar a tarefa e demos começo ao trabalho.
No começo foi tudo muito difícil. Basta dizer que todos os instrumentos eram de segunda mão, inclusive alguns de fabricação caseira, como o caso das guitarras, feitas pelo Barretinho, um amigo que também era do ramo. A primeira bateria pertencia à “Charanga do Gumercindo” e já estava encostada como imprestável; recuperada convenientemente nos prestou grandes e inestimáveis serviços.
Num verdadeiro rasgo de coragem aceitamos sair do Estado do Ceará, seguindo para cumprir contratos em Teresina, e posteriormente até Balsas. Sendo que foi o primeiro conjunto de guitarras a aparecer por aquelas bandas. Houve lá um episódio engraçado: no dia da chegada do Conjunto, em meio aos comentários que se fazia um tipo popular da cidade, chamado “Panelada”, me abordou na rua e perguntou:
-”Seu Alberto, como é mesmo o nome dos instrumentos, é guitarra ou é tarraxa?” ao que respondi brincando:
- É tarraxa, Panelada, é um conjunto de “tarraxas”.
Depois de Balsas fomos até Carolina, em dois aviões “teco-teco” onde fizemos duas festas e algumas apresentações com bastante sucesso.
Terminada a temporada no Sul do Maranhão voltamos de avião para Teresina, de onde pretendíamos seguir de ônibus de volta a Fortaleza. Para surpresa nossa não encontramos passagens e tivemos que voltar mesmo de avião, comprometendo todas as reservas obtidas na empreitada. Chegando a Fortaleza “mais liso do que calcanhar de cotia”, mas bastante satisfeitos, pois realizamos uma aventura muito gratificante.
O Conjunto, posteriormente, recebeu convite para ir à São Luís, para fazer duas festas. Uma delas no Clube dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar, ocasião em que o seu Presidente era o pai da hoje famosa cantora Alcione. Naquela noite fomos solicitados a deixar que uma mocinha, filha do Presidente, cantasse algumas músicas acompanhadas pelo Conjunto, o que foi atendido com prazer. Lá veio ela com seu vestido branco, pegou o microfone e cantou alguns números; sucesso total. Pois bem, essa mocinha não era outra senão a Alcione, antes de começar sua brilhante carreira, que todos conhecem muito bem. Em São Luís tocou também no “Cassino Maranhense”, uma festa bastante concorrida, dando cumprimento ao contrato. Tudo correu bem em São Luís, embora não se possa dizer, a bem da verdade, que tenha havido “estrondoso” sucesso. Era impossível, em face das condições materiais e da pouca experiência do Grupo.
O João Ribeiro, na qualidade de guitarrista, já ensaiava os primeiros passos para se tornar mais tarde, na opinião geral, o maior guitarrista do Ceará. Isto era voz geral.
O Conjunto participou de dois Festivais de Música Popular Nordestina, em Recife, acompanhando cantores da terra, sendo que a música cujo arranjo musical foi feito pelo João Ribeiro, obteve o segundo lugar. Decisão bastante contestada, visto que bem merecia o primeiro lugar. Esta foi a opinião de grande parte dos que participaram do referido Festival.
Em certa ocasião, acompanhando o cantor Ednardo, numa apresentação no Teatro José de Alencar, o João Ribeiro conseguiu, acompanhando-o na guitarra e flauta, abafar por completo o brilho do dono da festa. Só se ouvia na platéia o grito: “Boa Beiró” - com muitas palmas para o acompanhante.
Na temporada de Caxias houve um episódio que bem merece registro. Foi o seguinte: em plena festa, quando o João Ribeiro tocava um dos seus melhores números, levantou-se um cidadão, comerciante local que não me lembro o nome, e disse, dirigindo-se à Zisile:
- “Minha Senhora, o seu filho é um “ladrão” na guitarra”.
No Maranhão essa é uma expressão carinhosa, diz-se que o camarada é “ladrão” quando é muito bom em determinada coisa. Foi tudo maravilhoso, pois como maranhense eu conhecia os costumes da terra.
Acho de inteira justiça ressaltar a atuação da Zisile junto ao “Big Brasa”. Fez de tudo, desde tolerar os abusos de certos elementos que passaram por lá, que exigiam até o tipo de comida que deveriam ter (havia tempo em que alguns deles praticamente moravam aqui em nossa casa). Até a aquisição de material para o Conjunto, como foi o caso da primeira bateria “Pingüim”, comprada com o dinheiro dos bordados que fazia na época. Tenho a impressão de que sem a Zisile o Big Brasa não teria durado nem a metade do tempo.
No começo o Conjunto estava sob meu comando. Depois passei tudo para o João Ribeiro, que conduziu tudo com muita competência e firmeza.
PRESENÇA FIRME, NA CERTEZA DE QUE TUDO DEVE ESTAR JUSTO E PERFEITO
Já se passaram 10 anos que o papai nos deixou. Lembro dele quase todos os dias, muitas vezes em situações que passávamos juntos, tendo em vista que nosso diálogo era muito aberto e franco. O Papai era meu AMIGO. E ele tem estado presente o tempo inteiro em minha mente e na lembrança de todos de nossa família. A Aliete o teve como seu pai e hoje dedica muito amor à mamãe, Zisile, com seus 86 anos de idade. Todos nós, Aliete, Alberto Neto e Cristiane lembramos tudo o que ele fazia e as lições espetaculares de vida que nos deixou. Estou feliz por ter publicado este livro dele na internet. Certamente estaria muito satisfeito, pois era avançado e gostava de todas as inovações tecnológicas, chegando ao ponto de prever muita coisa do que ocorre hoje em dia.
Fortaleza, Ceará, 29 de junho de 2011
João Ribeiro da Silva Neto
Homenagem a meu pai, Alberto Ribeiro da Silva
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