quarta-feira, 29 de junho de 2011

MINHA SOGRA

         Nemézia Santiago Pereira. Já falei em seu nome em outra parte deste relato, mas aqui eu desejo ir mais a fundo, contar um pouco de sua vida, de sua luta, de sua dedicação à família.
         Muita gente gosta de contar casos, piadas, histórias diversas, envolvendo a sogra como figura antipática, personagem ruim. Confesso que eu mesmo sou “useiro e vezeiro” desse costume, embora pessoalmente só tenha palavras de elogio para a minha sogra.
         Ficou viúva muito jovem, com apenas trinta e cinco anos. Começou a sua vida depois que o marido morreu, praticamente do nada. Ou melhor, menos do que nada, pois além de muito pobre ficou ainda com algumas dívidas para pagar. Prometeu liquidar tudo e honrou todos os compromissos. Não ficou devendo um centavo a “seu ninguém”, como se diz.
         No começo trabalhou em costura, na residência de sua parenta Dolores Pereira, porque  não tinha uma máquina de costura de sua propriedade.
         Mais tarde começou a tomar conta dos bares, nas festas em casas de família, mediante comissão. Depois passou a fazer isso por sua própria conta.
         Um certo dia recebeu o convite de um parente, que estava de mudança, solicitando que ficasse tomando conta de sua casa, onde funcionava uma loja. Foi aí que teve a idéia de adquirir alguns gêneros alimentícios e outros artigos, como querosene, fósforos e outras coisinhas mais. Nesse particular foi ajudada pelo Alexandre Pires e Álvaro Pires, que confiaram nela e forneciam as coisas para serem pagas com o apuro, toda segunda-feira. Foi se aprumando através de muito trabalho, muita economia, muita perseverança.
         Naquela época, em Balsas, o coletor estadual era um homem bastante compreensivo, conhecedor da luta daquela mulher e do desejo que ela tinha de vencer. Resolveu em vista disso fazer que não via nada, não lhe cobrando impostos por algum tempo.
         Um certo dia recebeu a visita do Álvaro Pires, informando que havia uma casa para vender na Praça Gonçalves Dias e que se prestava muito para o tipo de negócio que ela fazia. Foi coisa “caída do céu”. Juntou tudo que tinha e topou a parada. Montou a sua quitanda, que nunca teve nem nome, mas era conhecida por “Quitanda da Dona Nemézia”. Ali prosperou bastante.
         Começou a negociar com aqueles matutos dos “Gerais” de Balsas.  Muitos deles deixavam em sua casa os seus pertences, enquanto tratavam de negócios na cidade. A coisa ia melhorando cada vez mais e logo aquela humilde quitandinha já era uma das mais bem sortidas. Já tinha até contador para fazer a escrita fiscal. Jamais deixou de pagar rigorosamente os seus compromissos para com o fisco,  como também a seus fornecedores.
         Lembro-me de um fato que ocorreu em uma das vezes que estive por lá, que merece destaque. Nesse tempo meu primo e amigo Pedro Ivo era correspondente do Banco do Brasil. Ainda não havia agência, é lógico. Estava eu no escritório dele, quando chegou um inspetor do Banco em visita de rotina. Começou perguntando pelos títulos que estavam para cobrança. Ia perguntando e o Pedro Ivo verificando nas suas anotações e informando:
         -  Esse pagou, esse não pagou”, e assim por diante.
         O rapaz notou que nas informações sobre a Nemézia o Pedro Ivo não se dava ao trabalho de verificar nada. Só dizia logo:
         -  Essa pagou”.
         O fato mereceu a atenção do funcionário do Banco, que ao final perguntou:
         -  Quem é essa senhora que você informa sem olhar nada?”.
         Ao que o Pedro Ivo disse:
         -  É a sogra desse cidadão que está aí ao seu lado. Ela paga tudo rigorosamente em dia. Tem horror a juros de mora.
         -  Pois ela está de parabéns e eu desejo conhecê-la pessoalmente, disse o inspetor. Para encurtar a história, pois não é que a Nemézia chegou até a juntar uns trocadinhos! Houve tempo em que gente que se considerava rica em Balsas tomava um dinheirinho emprestado a juros, da Nemézia.
         Às vezes, eu ia por lá e aconselhava:
         -  Nemézia, gaste seu dinheiro, compre uma televisão, um rádio, você tem economia no Banco.  A resposta que eu ouvia era:
         -  Deixa tá lá (referindo-se à poupança), um dia ele vai me servir.
         Criou as filhas com toda dignidade. Fez questão de dar uma máquina de costura para cada uma das filhas. Parece que se lembrava dos tempos difíceis por que passou.
         Terminou os seus dias de vida em Fortaleza, para onde veio já bastante idosa, quando não podia mais trabalhar. Faleceu na residência de sua filha Teresinha, vítima de parada cardíaca.
         A gente não pode julgar ninguém, mas, pelo que entendo, pela idéia que faço de Deus, acho que a Nemézia está por lá junto Dele.

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