quarta-feira, 29 de junho de 2011

O “CARGA TORTA”

         O seu primeiro nome era Benedito. O resto fica por conta do defeito físico que tinha, em virtude de desvio na coluna. Sabemos que o povo do interior não deixa passar essas coisas sem logo jogar um maldito apelido. E se “cola” bem - o que sempre acontece - o pobre tem de carregá-lo para o resto da vida. Neste caso, todo mundo sabia que o velho não gostava de ser chamado de Benedito “carga torta”. Ficava furioso, por isso mesmo muita gente evitava chamá-lo assim.
         Pois bem, vamos ao que interessa.
         Na época em que ocorreu esse fato encontrava-se em Balsas o meu tio muito querido, Raimundo Ribeiro da Silva, que nós carinhosamente chamávamos de “Tio Mundico”. Tinha        vindo de Floriano, onde morava, trazendo algumas mercadorias para negociar, visto que estava em certa dificuldade. Negócios difíceis, essas fases que a gente passa, em que tudo dá errado.
         Negociava com um matuto e o objeto da venda era um cavalo que o tio Mundico dizia ter 5 anos de idade. Tudo certo, negócio fechado, só faltava mesmo receber o dinheiro e entregar o cavalo, nada mais.
         Isso era bem cedinho, aquele “capim de burro” que existia nas ruas de Balsas estava completamente molhado pelo orvalho da madrugada.
         Pois lá vem o velho Benedito, já voltando do mercado, com um quilo de carne pendurado num gancho de ferro, era o costume.. Sem ter nada a ver com a história, parou, não deu nem bom-dia pra ninguém. Com a maior dificuldade, tendo em vista a relutância do animal, passou-se para os beiços do cavalo e depois de muita luta emitiu o seu parecer:
         -  Esse cavalo tem 16 para 17 anos. Está na terceira muda”.
         Foi o suficiente para botar a perder o negócio. Nada feito.
          -  Pois é, seu Mundico, sendo assim eu não vou querer o cavalo, disse o matuto.
         Nesse hora é que o tio Mundico perdeu as estribeiras e partiu para o velho com quatro pedras na mão:
         -  Está vendo o que você fez, velho Benedito Carga Torta, fio duma égua?
         O velho não respondeu uma só palavra. Pegou seu quilinho de carne e bateu em retirada.
         É por isso que o povo diz:
         -  Tem coisas que vêm do mato pra casa, o que é uma grande verdade.
         O que diabos tinha esse velho pra se meter num negócio que não era seu? Não dá raiva?

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