quarta-feira, 29 de junho de 2011

“CÃO, NEM POR HIPÓTESE”

         A madrinha Teresinha, velha professora que morou em Balsas durante muitos anos - e de quem já falei noutro local deste relato - era, como se diz, beata do Padre Cícero, criatura fortemente ligada à religião católica, cheia de preconceitos de toda ordem, no tempo em que tudo ou quase tudo era pecado mortal.
         O medo de ir para as profundezas do inferno fazia com que as pessoas andassem rigorosamente na linha, pois pensavam que o menor deslize seria fatal.
         Ora, sabemos que a palavra “cão”, pelo menos no Maranhão, tem o significado de diabo, demônio, capeta, satanás e tantos outros nomes que lhe dão.
         Pois bem, corria na época que a boa velhinha para não pronunciar semelhante palavra, a fim de não ofender à Deus, a substituía por outras, como por exemplo:
         - Balcão, ela chamava mesa de loja ou mesa grande;
         - Facão, ela dizia faca grande;
         - Basilicão, ela dizia basílica da farmácia (era um remédio muito usado naquela época);
         - Furacão, para ela era “fura-mundo”.
         E assim por diante. Tenho a impressão de que muita coisa foi inventada pelo povo, sempre disposto a brincar com as pessoas em todas as épocas.
         Pelo sim ou pelo não, fica o registro, pois efetivamente eram os comentários da época.
         Aproveito o ensejo para pedir perdão à Deus por ter falado tanto no nome do espírito satânico:
         - Cão, nem por hipótese...
         Cruz, pé de pato, rabo de embira.

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