quarta-feira, 29 de junho de 2011

O CHIQUINHO “CABORÉ”

         Residia na beira do Rio Balsas, mais ou menos onde funcionava uma usina de beneficiamento de arroz. Naquele tempo ficavam por ali alguns armazéns, inclusive um muito grande, todo de madeira, que se destinava ao depósito de sal a granel. Eram propriedades de nossa família.
         Bem, mas isso não vem ao caso. O que interessa aqui é o registro da passagem do nosso “Chiquinho Caboré” pelo Balsas.
         Era comum encontrá-lo deitado numa cadeira preguiçosa, calmamente descansando e até “tirando um ronco”, aproveitando aquela agradável brisa vinda do rio. Casado com Dona Gertrudes, que sempre vendia ovos caipiras para os balsenses. Quantas vezes eu cheguei por lá e falando com ele perguntava:
         -  Tem ovos, seu Chiquinho? E ele perguntava em voz alta:
         -  Gertrudes, tem ovos? Diante da resposta afirmativa eu perguntava:
         -  Qual o preço? Pasmem os brasileiros de hoje, com o preço da mercadoria: três por dois tostões, duzentos réis (vinte por cento de 1 mil réis), que era a moeda da época.
         Perguntem ao Delfim Neto e à Dona Zélia Cardoso de Melo o que é isso, e eu dou um doce se eles responderem.
         É, mas a coisa foi ficando preta. Mais tarde a gente chegou lá e o preço já tinha subido; já era dois ovos por três tostões, um verdadeiro absurdo. Essa história de aumento de preços vem de longe, os senhores estão verificando. De lá para cá é essa desgraça que vocês conhecem.
         O seu apelido vem do fato de ter os seus olhos muito grandes, esverdeados, era mesmo que estar vendo um caboré. O “povão” sempre acerta em matéria de colocar apelido nos outros.
         Apesar dos seus fraquíssimos conhecimentos, praticamente analfabeto, chegou a ser Delegado de Polícia interino, por algum tempo.
         Dizia o meu tio Rosa, titular do Cartório do 2º Ofício, que existia por lá um requerimento feito para a realização de uma festa, dirigido ao Delegado de Polícia, no qual havia o seguinte despacho:
         -  “Pode fazerem seus bailes”.
          Era  a licença para a realização de um grande baile.
         Foi por muito tempo arrendatário do porto de passagem do rio, que era feito em canoas, pois não existiam ainda as pontes.
         Preço da passagem, ida e volta: um tostão, ou seja, cem réis, ou ainda dez por cento de 1 mil réis.
         Bons tempo que não voltam mais.
         Quando a gente precisava atravessar o rio e a canoa estava do lado contrário era necessário gritar para o passador - o homem que remava a canoa, que nem sempre atendia com boa vontade.
         Contam que uma certa vez um cidadão estava na Tresidela, com um caso urgente para resolver, louco para ser atendido. Gritou várias vezes, parece que o danado do passador estava dormindo e quando acordou, com a cara “desse tamanho”, foi resmungando esse desaforo:
         -  Quem estiver “avexado” que arrodeie pela cabeceira, ou então atravesse a  nado.
         Ora meus amigos,  esse nosso querido Balsas teve de tudo.

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