quarta-feira, 29 de junho de 2011

UM RÉU DIFERENTE

         O nome do homem é Manoel, o sobrenome não me lembro. Sei que havia praticado um crime horrível. Uma barbaridade sem limite contra um menor, abrindo a cabeça da pobre vítima com um machado, esfacelando-a. Um acontecimento triste sob todos os aspectos.
         Foi preso na cadeia pública de Balsas, mas, por absoluta falta de condições para mantê-lo encarcerado a Polícia permitia que o mesmo andasse livremente pelas ruas da cidade, prestando serviços aqui e ali para conseguir a sua manutenção.
         Aliás, antigamente isso era bastante comum na cidade. Onde os presos menos paravam era na cadeia. Passavam era o dia todo bebendo cachaça e provocando confusões. Dizem que nos tempos passados houve um carcereiro chamado Sinésio, que chegou mesmo foi a baixar uma portaria com a seguinte ordem:
         -  A partir de segunda-feira, o preso que não chegar até às 22 horas vai dormir na rua. Não estou mais disposto a passar a noite toda abrindo porta de cadeia para receber bêbado. Foi uma medida que surtiu efeito. A partir daquele dia, quando dava nove horas da noite, todo mundo já estava “em casa”, ou seja, “em cana”, para não ficar ao relento.
         Bem, mas vamos voltar ao caso do seu Manoel, de quem estava falando: era um desses. Aguardava julgamento em plena liberdade.
         No dia do júri popular, aguardava-se grande batalha jurídica que ia se travar entre o Dr. Adelmar Neiva de Sousa, advogado de defesa, e o Dr. Paulo de Tarso Fonseca, promotor público. O juiz de direito era o Dr. Barroso, que depois foi desembargador do Tribunal de Justiça.
         O fato é que começou a sessão, como sempre a palavra da acusação. O Dr. Paulo não contou conversa, fez um trabalho bastante longo, mostrando todas as peças do processo, que era volumoso. Em seguida veio a palavra da defesa, onde o Dr. Adelmar também não fez por menos. Rebateu tudo com muito brilhantismo. Levou muito tempo, pois tratava-se de uma defesa quase impossível, em face da gravidade do crime.
         E o tempo foi se passando. Réplica, depois tréplica, tudo como manda a lei. Tudo correndo rigorosamente dentro das normas legais.
         Quando foi lá pelas 16 horas é que veio o engraçado desta história: o réu, já bastante chateado com a demora, levanta-se ostensivamente, dá uma espreguiçada no corpo e diz:
         -  Eta, que maçada do diabo! E olhando para o seu advogado, indagou:
         -  Doutor, esse negócio ainda vai demorar muito?
         Dr. Adelmar, bastante surpreendido pela indagação do réu, informa então que aquilo era um júri, que tudo dependia do andamento dos trabalhos, como é de praxe.
         O seu Manoel, com a maior “cara de pau”, saiu-se com essa:
         -  É, por que eu às 5 horas da tarde tenho que estar despachado dessa confusão toda, preciso cuidar das vacas da Dona Ritinha, a quem não posso faltar.
         A verdade é que foi absolvido, ficou mais livre do que já estava, graças à atuação do seu defensor.
         É ou não é um réu diferente?

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