quarta-feira, 29 de junho de 2011

A COMADRE MIRÉ

        Era uma mulher alta e magra. Tinha a profissão de parteira prática ou aparadeira, como queiram. Comadre de quase todas as senhoras da sociedade balsense daquela época, pois era constantemente chamada para prestar os seus serviços profissionais.
         Certa vez teve um sério desentendimento com a minha Mãe, só por que, chamada às altas horas da madrugada, chegou lá em casa fumando um “baita” cachimbo e queria entrar imediatamente em ação. Ocasião em que a Mamãe, com toda a educação, com todo o respeito para não causar aborrecimentos, solicitou:
         -  Comadre Miré, não me leve a mal, mas será que a senhora pode primeiro lavar as mãos?
         Ora, querer fazer um parto sem ao menos lavar as mãos era demais. Pois foi o que aconteceu. Revoltada, a mulher saiu-se com esta:
         - Comadre Marica, fique sabendo que as minhas mãos não estão podres não, tá ouvindo?
         A verdade é que não lavou as mãos, fez todo o serviço do parto sem observar qualquer regra de higiene e não aconteceu nada, graças ao milagre de nosso bom Deus.
         Em outra ocasião ela chegou lá em casa, desta vez apenas para uma simples visita. Em meio à conversa, não sei por que cargas d’água se falou em dor de dente, em doença de dente, ao que a nossa boa comadre disse com verdadeira satisfação:
         - Comadre Marica, eu, graças à Deus, nunca soube o que foi  doença de dente. Os meus amoleceram tudinho, sem dor de jeito nenhum. Tinha vez que eu tirava eles era com as mãos”. Mal sabia ela que se tratava da velha “piorréia” no mais alto grau.
         Santa ignorância...

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