Um certo dia, não me lembro exatamente quando, Fortaleza foi acordada por um estranho ruído que apavorou todo mundo. Quando liguei o rádio a fofoca já estava no domínio público.
Gente nas ruas, comentários de toda ordem, mas afinal de contas tudo deu em nada, graças à Deus.
Sobre o assunto tive a oportunidade de escrever o comentário a seguir, a título de gozação, o qual foi exibido no flanelógrafo da TV Educativa, onde eu trabalhava na época. Foi uma brincadeira que fiz, para conhecimento dos colegas.
“Aconteceu aqui no nosso querido Ceará, em certa ocasião, um terremoto que poderá muito bem ser classificado como o mais desmoralizado de toda a face da terra. Basta dizer que o maior dano causado pelo mesmo foi uma trinca de vinte centímetros de comprimento, por dois e meio milímetros de largura, feita numa parede de barro de um barraco localizado no Jangurussu. Barraco este construído por ocasião da visita que nos fez o nosso Imperador D. Pedro II.
Em matéria de vítimas esse fabuloso terremoto, graças à Deus não deixou nenhuma. A mais grave foi um papagaio em Messejana, pertencente a um colega nosso da TVE, que ficou por duas horas sem fala, em estado de “cama”.
O povo da cidade ficou na maior animação, com a notícia muito alvissareira de que nos próximos dias poderia haver outro terremoto com igual intensidade. Isto em virtude do “carnaval” feito pelo terremoto da véspera.
Homens, mulheres e crianças vieram para as ruas de Fortaleza e todos comentavam com a maior alegria os acontecimentos do terremoto.
O Sebastião Belmino, que se encontrava em companhia de alguns colegas, em alegre bate-papo na mesa de um barzinho vizinho à TVE, declarou que efetivamente sentiu o tremor nas mãos mas não deu nenhum alarme por que ficou pensando se tratar do efeito de algumas doses que já tinha “embicado”.
O Cabral, diretor técnico, foi outro que prestou declarações à imprensa dizendo que pensava ser tudo aquilo o efeito da “distonia” que já o acompanhava há mais de vinte anos.
Outros, possivelmente ardorosos torcedores do “Tubarão” (Ferroviário Atlético Clube), o Ferrim, estão dizendo a torto e a direito que aquilo nunca foi terremoto. O que houve mesmo foi a “Locomotiva do Ferrim” passando por cima do “Vovô” (Ceará Sporting Club) ocasionando a fratura de dois ossos, o que provocou aquele barulho todo.
O Hipólito preparou um relatório para encaminhar ao major Bastos (superintendente da TVE), que começou assim:
- Major, a sua ausência foi uma tranqüilidade nesta TVE. Aconteceu um terremoto que foi a coisa mais animada que já vi nesses últimos tempos. Foi um espetáculo que agradou a todos pela animação e ordem que decorreu...
Em todo o terremoto que acontece por aí afora, quem primeiro dá o alarme são os animais, cachorros, gatos, galinhas etc. Pois nesse terremoto de ontem o “seu” Alberto disse que o seu cachorro chamado “Mike” (o cachorro de seis milhões de pulgas), levou mais de meia-hora para ser acordado, o que aconteceu depois de solavancos de todos os tamanhos. E ainda acordou se espreguiçando todo, com a maior calma desse mundo, chateado por que interromperam o seu sono.
Durante a duração do animado terremoto houve coisas realmente interessantes. Em Messejana teve um colega nosso que viu um casal de canários voando com gaiola e tudo. Até hoje não voltou. Aí mente...
Meus amigos, esta é sem dúvida a melhor terra do mundo para se morar. Até terremoto é motivo para se brincar.
As autoridades responsáveis pelo trânsito já estão tomando as devidas providência para melhorar o tráfego de veículos no próximo terremoto a fim de que não haja engarrafamentos como neste último.
Fiz as seguintes quadrinhas sobre o terremoto e não se admirem se aparecer um livro para contar tudo.
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