Tenho um vizinho em Messejana, homem simples, cidadão já de avançada idade e creio que por este motivo temos uma afinidade muito grande. Gosto imensamente de conversar com pessoas idosas, principalmente essas que viveram no interior e que têm muita sabedoria para nos transmitir.
Toda cidade deveria ter um conselho de anciãos, a exemplo do que acontece na China e em outros países do Oriente. Como já estou vivendo a última etapa da minha vida, desejo aproveitar o restinho que me falta para escrever alguma coisa que no futuro poderá servir de exemplo para os jovens que vêm por aí.
Seu Galdêncio é um homem de poucas letras, mas possuidor de fina educação. A sua maneira de falar indica ser um homem de bem. Há poucos dias estávamos conversando sobre as vantagens de viver em cidades do interior, aproveitando as delícias do clima, bem como o contato com a gente boa e amiga do sertão. Foi aí que eu ouvi daquele amigo esta séria advertência que muito me impressionou:
- “Seu Alberto, tome cuidado com esses cabras do interior. As coisas de hoje em dia estão muito diferentes do nosso tempo. De cada quatro camaradas que aparecem como gente, só um é gente de verdade, os três parecem com gente, mas de gente mesmo só têm o rastro”.
Fiquei pensando sobre o assunto e infelizmente cheguei à conclusão que ele tem razão. Acontecem coisas por este mundo que são difíceis de acreditar. Em uma cidade do sertão maranhense existia uma senhora muito rica que vivia inteiramente dedicada aos pobres, ajudando a um e a outro, procurando servir aos mais humildes. Resolveu então adotar uma criança, a qual dedicava todo o seu carinho, como se fosse um filho. Esse menino foi crescendo e cada vez dando mais trabalho, praticando toda sorte de desmandos, crimes de toda ordem. Mas apesar disso, aquela boa senhora não perdia a esperança de vê-lo recuperado.
Certo dia praticou um crime sério, sendo preso e acusado de homicídio hediondo. A sua protetora contratou o melhor advogado da região para defender o rapaz. Conseguiu o verdadeiro milagre de livrá-lo da cadeia, o que parecia ser impossível. Pois bem, o miserável no dia em que saiu da prisão foi diretamente para a casa, sendo recebido com o maior carinho por sua mãe adotiva. Entretanto, no meio daquela alegria toda, o infeliz aprontou mais uma de suas maldades.
O que fez aquela praga? Depois de receber os abraços e afagos de toda a família, foi se chegando para perto da boa senhora, e com a maior insensibilidade do mundo, e disse:
- “Pois é, minha madrinha, a senhora me fez esse grande benefício e agora vou fazer uma coisa que vai lhe servir para ficar rindo o resto de sua vida”.
Foi uma alegria geral, todos pensavam que o homem estava de fato querendo retribuir o benefício recebido. Que nada, pegou uma faca bem amolada e, segurando o lábio superior daquela mulher, cortou-o, deixando expostos os dentes todos, dizendo que assim ela ficaria rindo o resto da vida.
É por essa e outras que o povo diz na sua grande sabedoria:
- “Pau que nasce torto, até a cinza é torta”.
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