Essa história de sorte e azar vem desde o começo do mundo e até hoje não houve quem soubesse dar uma explicação convincente para a mesma. Tudo depende do ponto de vista de cada um, achando alguns que cada pessoa já nasce com seu destino traçado, outros, ao contrário, estão certos de que cada um pode construir o seu próprio destino através do trabalho e dedicação. No meu entender as duas correntes até certo ponto têm uma dose de razão, pois existem inúmeros casos em que pessoas que em determinadas fases da vida atravessam grandes dificuldades e depois passaram para o outro lado, obtendo êxito em tudo. Em compensação, conheço casos de cabras que realmente parece que não nasceram para ter as coisas. Aqui no Nordeste corre na boca do povo aquele versinho que diz assim:
“A bananeira do pobre não dá cacho. A vaca do pobre custa a dar cria e quando dá o bezerro é macho. O pão do pobre só cai com a manteiga pra baixo”.
Aí o seu filho de 10 anos que está do lado, diz: “Pai não é pão não, é beiju com azeite de cocô; e ainda tem uma mais pió - quando cai é mermo inrriba dum cuspe”.
Essa brincadeira vem a propósito de um camarada que conheci na minha terra que era um bom jogador de gamão, mas não tinha sorte nos dados e por este motivo perdia sempre. Teve um dia que a coisa chegou às raias do absurdo. Começou uma partida e notou que todas as vezes que jogava os dados, os mesmos paravam no “dois e ás” um ponto pequeno, no gamão. Aquilo foi irritando o cidadão que atirou os dados em um matagal. Mais tarde, foi procurá-los, por curiosidade, e novamente encontrou os dados marcando os “dois e ás”.
Tomado de verdadeira ira engoliu os dados, e no dia seguinte, na hora de satisfazer as suas necessidades fisiológicas, teve o grande desprazer de verificar que os danados dos dados caíram mais uma vez no “dois e ás”. Aí não prestou, meus amigos. Fez uma fogueira e queimou aquela desgraça de dados, jogando as cinzas no Rio Balsas, ocasião que verificou que as cinzas desciam mansamente em três bloquinhos – um de um lado e dois do outro. Era o velho “dois e ás” infernando a vida do pobre homem.
Vá ter azar assim, nos quintos dos infernos...
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