segunda-feira, 4 de julho de 2011

A INFELIZ PERPETINHA

A memória da gente é uma coisa muito interessante, guarda acontecimentos que se passaram na infância e que ficaram ali arquivados por toda a vida, sempre relembrados, comentados em família e com os amigos, até que um dia vem aquele desejo de passar para o papel, de deixar gravado para que as gerações futuras, quem sabe, possam tomar conhecimento.
Essa é uma história que me foi contada pelos meus pais, e olhe que já se vão quase oitenta anos; nunca esqueci e somente agora estou registrando nessas poucas linhas, sem outra pretensão, se não o de passar para a memória escrita.
Naquele tempo morava numa cidade do interior do Maranhão uma linda jovem de boa família, comportamento exemplar e por todos muito querida e admirada.
Num determinado dia essa cidade foi brutalmente invadida e saqueada por uma tribo de índios selvagens que além de roubarem mantimentos de toda ordem, seqüestraram e conduziram à força essa linda jovem que era conhecida pelo nome de Perpetinha. Foram feitas inúmeras buscas por toda parte sem o menor êxito, quem sabe até por falta de recursos apropriados.
Durante muitos anos as buscas se realizaram com a intensidade possível, mas a verdade é que a pobre moça nunca foi encontrada, embora tenham aparecido algumas pistas através de escritos nos troncos de árvores, onde se lia: “Por aqui passou a infeliz Perpetinha”, por onde se pode deduzir que ela sofria bastante.
Com o passar do tempo que tudo destrói, o caso foi sendo esquecido, como sempre aconteceu nesse mundo de memória curta.  Depois de muitos anos, que para ela devem ter sido uma eternidade, uma equipe de reportagem encontrou aquela que outrora fora uma linda jovem, mas já com uma idade avançada, casada e mãe de muitos filhos. Convidada a voltar para o nosso meio, que chamamos de civilizado, recusou-se visto que a esta altura predominou o amor materno, tão natural em todos os seres viventes.
Agora pergunto: será que essa criatura teria sido mais feliz se tivesse ficado entre nós. Esses são os desígnios de Deus, que não nos cabe julgar. 

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